Biografia e caixa com CDs e DVD dimensionam vida e obra de Lobão


Talentoso, polêmico, exagerado, verborrágico... O compositor e cantor carioca Lobão, 53 anos, é tudo isso e mais um pouco.




João Luiz Woerdenbag Filho, o cantor e compositor Lobão, 53 anos, está na ordem do dia novamente. Nas livrarias, a autobiografia 50 Anos a Mil (Nova Fronteira/ R$ 59,90/ 596 páginas), escrita juntamente com o jornalista Claudio Tognolli, conta a trajetória intensa e veloz do artista carioca.

Nas lojas de discos, a caixa Lobão 81/91 (Sony Music) compila os primeiros dez anos de carreira do roqueiro, por meio de três CDs (41 canções), e acrescenta o DVD Acústico MTV, lançado em 2007 vencedor do Grammy Latino na categoria melhor disco de rock. Tudo, remasterizado pelo americano Roy Cicala, que gravou ou produziu mitos como Elvis Presley, John Lennon e Frank Zappa.


Lobão: um dos artistas fundamentais da geração do rock nacional dos anos 80

Exagerado
Lobão costuma dizer que foi o melhor amigo de Cazuza (1958-1990), na companhia de quem ele abre a narrativa da biografia 50 Anos a Mil. Conta que, no velório de Júlio Barroso (1954-1984), os dois cheiraram cocaína em cima da tampa do caixão do líder da banda Gang 90 e As Absurdettes.

Estavam tristíssimos e chapados pela morte do amigo Júlio Barroso. O adjetivo exagerado vale para Cazuza e Lobão, mas o autor de Vida Bandida e Me Chama tem algo que o diferencia do filho de Lucinha e João Araújo: é verborrágico demais.

O início da biografia é promissor, mas logo o leitor mais exigente percebe que umas 150 páginas a menos não fariam falta na obra. Além de Lobão ser verborrágico e prolixo, o livro é mal escrito. A nota do editor na abertura é sugestiva, quase um pedido de desculpas: “Decidimos manter o léxico e a sintaxe peculiares e autorais de Lobão. Não fosse assim, a fluidez e o ritmo do livro, tão originais, seriam perdidos”.

50 Anos a Mil tem mais páginas, por exemplo, do que as biografias Eu Sou Ozzy (416 págs.), de Ozzy Osbourne; Mais Pesado que o Céu - Kurt Cobain (418 págs.), de Charles Cross; Led Zeppelin - Quando os Gigantes Andam Sobre a Terra (552 págs.), de Mick Wall; e Madonna, Uma Biografia Íntima (494 págs.), de J. Randy Taraborrelli.

Devaneios e tiros O problema de uma personalidade verborrágica é que, além de provocar cansaço, muitas vezes ela fantasia o que conta. Verdade e mentira passam a se confundir, os limites ficam tênues.


Longe de mim duvidar de todos os fatos narrados por Lobão, mesmo porque alguns são públicos, como os pais problemáticos, drogas, prisão (bom momento do livro) e a longa pendenga com Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, a quem acusa de plagiar suas ideias no começo da carreira.
Porém, em pelo menos dois fatos que Lobão afirma terem ocorrido na Bahia, a fantasia vence a realidade.

Sobre um show no Clube Baiano de Tênis, em Salvador, diante de 16 mil pessoas, nos anos 80, ele diz que o policiamento abandonou o local e o resultado foi: “pisoteamento, dezenas de pessoas feridas...”. A atitude dos policiais teria sido uma “vingança branda” contra o cantor, por ele ter cometido uma gafe com ACM, então ministro das Comunicações.


Não houve “dezenas de pessoas feridas” no Bahiano de Tênis - eu estava lá, inclusive - e a “vingança” também é devaneio. Na mesma época, Lobão cantou em “Jequié, a Cidade Sol! É chamada por esse nome porque lá quando chove vira até feriado municipal”. A explicação sobre porque Jequié é chamada assim não corresponde à realidade.

Capaz de trocar tiros com a polícia do Rio, quando passava semanas com os amigos traficantes nos morros, Lobão é um dos nomes fundamentais para se entender o rock brasileiro dos anos 80. Sua faceta polemista também é necessária, ainda mais em tempos de politicamente correto.


Agora, apenas a tríade conflitos pessoais, drogas & rock não justifica o interesse por uma biografia escrita de modo excessivo, com texto caótico que eclipsa até os fatos mais interessantes.


Melhor ler Lobão pela caixa 81-91, ainda que a maioria das canções soe datada em produção e realização. Os melhores discos do cantor são Nostalgia da Modernidade (1995) e o sofisticado A Vida é Doce (1999), que sintonizou o artista com a cena independente do país.

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