Comum na zona rural, sexo com animais aumenta risco de câncer de pênis
Segundo pesquisa, os homens que já tiveram relações sexuais com animais correm um risco duas vezes maior de desenvolver câncer de pênis
Na beira de uma lagoa na zona rural de Irará, Rogério Silva encontra uma pedra na sombra para sentar e observar as 80 vacas sob seus cuidados. É um refúgio para suavizar a aflição da dúvida.
Os amigos fazem graça, o calor lhe pega de jeito, o suor começa a pingar e ele, enfim, admite: “É isso mesmo. Quando eu tinha uns 14, 15 anos, ‘comia’ uma jega!”.
A afirmação é capaz de chocar muita gente, mas a prática não chega a ser motivo de assombro nas roças Brasil adentro. Levantamento coordenado pelo hospital paulista A.C.Camargo, em parceria com 16 centros de tratamento de câncer do país, aponta que, na zona rural, 34,75% dos homens já tiveram ao menos uma relação carnal como a de Rogério, de 26 anos.
Superada a dúvida entre admitir ou não o ato, o rapaz, que nasceu na cidade a 137 quilômetros de Salvador, dá vazão às lembranças. “Eu trabalhava no mato com a jega. O peão quando é novo, sabe como é, né? Dava aquela vontaaade... botava logo ela no toco”.
Botar no toco, ensina Rogério, é encontrar um lugar em que o homem fique um pouco mais elevado que o animal, dando o equilíbrio necessáriopara o alívio imediato. “Quando a bicha se acostuma, basta passar a mão pelo rabo que ela já se ajeita. Não precisa nem fazer esforço”, revela, ante a gargalhada dos amigos.
Câncer
O problema é que, segundo a pesquisa encabeçada pelo urologista Stênio de Cassio Zequi, os homens que já tiveram relações sexuais com animais correm um risco duas vezes maior de desenvolver câncer de pênis em relação àqueles que só buscaram abrigo com indivíduos da mesma espécie.
O dado, entretanto, não assusta o pintor Edmilson dos Santos, o Cacau, 52 anos, que vive no distrito de São Bento do Inhatá, em Amélia Rodrigues, distante 84 quilômetros da capital baiana.
“Quando eu era adolescente, tinha muita gente que fazia isso. Agora olhe eu aqui, inteiro”, comemora ele, que tem quatro filhos com a ex-mulher. “Já fui em jega, mula, égua e até galinha. Mas galinha não ‘guenta’ não, moço. É pequena!”, completa.
Ao seu lado, quem confirma as peripécias juvenis é o agricultor Roque Gualberto, 55 anos, conhecido em São Bento como Da Manga.
“Na roça, o homem que diz que nunca teve vontade de se aliviar com uma bichinha tá é mentindo”, afirma ele com um largo sorriso, antes de emitir uma mistura de sons desconexos numa pretensa imitação do gemido de prazer dos bichos (e talvez dos homens).
Entre os entrevistados para a análise científica, os nordestinos mostraram predileção pelos equinos, enquanto no Sul e no Sudeste a simpatia dos homens se debruça sobre caprinos e galináceos.
“Já ouvi até relato de um pescador que teria mantido relação com uma arraia”, diz Stênio Zequi, para quem ainda é um mistério o que foi feito em relação ao esporão do peixe.
No meio dos homens ouvidos pelo CORREIO, as jeguinhas têm boa fama. “Já fica na altura certinha. Com égua é mais difícil. As bichas são brabas, dão coice, é uma briga só”, explica Rogério, cheio de empirismo.
Cuidados
Seja lá qual for a preferência de cada um, Zequi só pede que os homens tenham cuidado. “Nem todo mundo que tiver uma relação deste tipo terá câncer, mas as pessoas precisam saber dos riscos”, avalia o urologista.
Para encerrar a conversa, ele deixa uma dica que serve para órgãos de saúde e homens mais afoitos: “As campanhas educativas sobre câncer sempre lembram que é preciso lavar bem o pênis com água e sabão. É preciso dizer também para evitar o sexo com animais. Se não tiver jeito, que se use camisinha”.
Médicos não consideram casos como zoofilia
Durante o estudo do comportamento sexual das populações rurais brasileiras coordenado pelo urologista Stênio Zequi, todos os homens que afirmaram ter tido relação sexual com animais - em menor ou maior escala, afirmaram também que a prática foi abandonada após algum tempo. "Em média, eles começam com 13 anos e param com 17. É uma fase. Todos os entrevistados falam de memórias de uma iniciação sexual velada", afirma Zequi. Por isso, na opinião do médico, casos deste tipo não podem ser considerados zoofilia, termo usado para definir a predileção sexual de pessoas por animais de outra espécie e que, no Código Penal brasileiro, não é caracterizado como crime.
O mesmo ponto de vista é defendido pelo psiquiatra Luiz Fernando Pedroso, diretor clínico do Espaço Holos, em Salvador. "No interior, isso é natural, é cultural. Antigamente acontecia nas áreas urbanas também", afirma Pedroso, que é membro internacional da Associação Americana de Psiquiatria. "A zoofilia se caracteriza quando o indivíduo já formado, dotado de informações e opções sexuais, direciona sua libido para um animal por preferência. Aí é um desvio", conclui.
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