Exportando corrupção
Tribuna da Bahia
por Luiz Holanda
O processo do
mensalão, que o PT insiste em partidarizar, começou pela CPI dos
Correios, ocorrida entre 2005 e 2006 para apurar denúncias de corrupção
envolvendo aquela instituição e o deputado Roberto Jefferson, presidente
do PTB. A divulgação de uma fita de vídeo mostrando o ex-diretor do
Departamento de Contratação e Administração de Material daquela empresa,
Maurício Marinho, explicando como funciona o esquema de pagamento de
propina destinado a engordar o caixa do partido, foi o estopim. Na
gravação, Marinho também afirma que outras empresas teriam esquemas
semelhantes, a exemplo do Instituto de Resseguros do Brasil. Esqueceu de
citar o BNDES, acusado de promover evasão de divisas por ordem do
governo da União. O esquema utilizado seria o empréstimo de bilhões de
dólares do tesouro nacional a várias nações, sendo que, em alguns casos,
favorecendo diretamente empresas que instalaram filiais especializadas
em propinodutos, exportadoras de corrupção. A Transparência Brasil
denunciou o caso, por violação do Tratado de Viena, compromisso de
combate à corrupção internacional.
Outros
casos vieram à tona, a exemplo da compra de votos para o Rio de Janeiro
sediar os próximos jogos olímpicos. A última, publicada recentemente,
afirma que funcionários do comitê organizador da Rio-2016 foram
demitidos por furtarem informações confidenciais do comitê de
Londres-2012 durante a olimpíada. O conteúdo dos arquivos surrupiados
não foi revelado, mas parece que continham informações sobre ações
estratégicas e de segurança. A corrupção no esporte, entre nós, está
institucionalizada há muito tempo. A presidente Dilma, no início do seu
governo, demitiu o ministro da pasta por suposto desvio de dinheiro do
Programa Segundo Tempo, criado para incentivar crianças carentes a
praticar atividades esportivas.
Na pauta para
o evento de abertura das Olimpíadas Rio-2016 está uma homenagem
monumental aos 100 anos de João Havelange, acusado, juntamente com o
ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol - CBF, Ricardo
Teixeira, de receber propina em troca de facilidade na aquisição dos
direitos de televisão das competições. O pedido de divulgação foi feito
pela emissora britânica BBC e por quatro jornais suíços, mas a FIFA
antecipou-se e divulgou o documento. Após a confirmação do suborno, o
presidente da entidade, Joseph Blatter, anunciou mudanças no Código de
Ética da instituição, dando poderes ao seu comitê para julgar os
acusados, seja qual for a época do suborno.
Com tanta
permissividade a desaguar na delinquência, nada se pode esperar. Seja
qual for o setor onde a corrupção se desenvolva, a ordem é abafá-la.
Alguém já disse que, entre nós, nenhum bandido deve se preocupar: basta
caprichar na pose de político ou empresário a serviço da pátria, do PAC e
do Protetor dos Pecadores Companheiros para estar garantido pela
impunidade. Depois, é só comemorar. Talvez haja, a partir de agora, um
pouco de receio nas comemorações, graças à revolta da nação, que
praticamente obrigou nossa suprema Corte a dar um basta na impunidade,
isso depois de mais de quarenta anos sem punir nenhum político. Mesmo
assim, a desconfiança persiste - principalmente em relação ao ministro
Ricardo Lewandowski, que prepara o terreno para a absolvição do
ex-ministro José Dirceu. As surpreendentes condenações até agora
proferidas estão deixando os acusados furiosos, ao ponto de seus
advogados, que na certa prometeram total impunidade, ofenderem os
ministros e o Procurador-Geral da República. Os únicos poupados, por
razões óbvias, são o revisor, o ministro Dias Toffoli e o ministro Marco
Aurélio. Este último já deu sinal de que vai mudar de entendimento, o
que, na realidade, não muda nada, pois, independentemente dos recursos
protelatórios, o novo decreto de indulto presidencial, previsto para
dezembro, pode mudar tudo, inclusive perdoar os condenados.
Luiz Holanda é professor de Ética e de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade Católica do Salvador-UCSAL
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