Imprensa chinesa acusa Obama de "se fazer de bobo" por reunião com Dalai Lama
Pequim,
22 fev (EFE).- O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, "se faz
de bobo" ao se reunir com o líder espiritual tibetano, o Dalai Lama, em
um encontro que só serve para "irritar à China e fazer com que os
chineses contestem a sinceridade de Washington" na relação bilateral,
publicaram veículos da imprensa oficial do país asiático neste sábado.
Obama se reuniu na sexta-feira na Casa Branca com o Dalai Lama pela
terceira vez em seu mandato, em uma conversa que gerou um sério
descontentamento do governo chinês, que na noite passada convocou o
encarregado de negócios dos EUA em Pequim, Daniel Kritenbrink, para
expressar seus protestos.
Segundo a agência oficial "Xinhua", o vice-ministro das Relações
Exteriores chinês, Zhang Yesui, manifestou a "forte indignação e a firme
oposição" da China ao encontro, que considera como uma grave ingerência
nos assuntos internos do país.
A reunião "prejudicará gravemente a cooperação e as relações entre
China e EUA e prejudicará os interesses dos americanos", considerou o
vice-ministro, que insistiu que os EUA "não têm o direito" de interferir
nos assuntos internos chineses.
Os Estados Unidos devem dar agora "passos concretos para recuperar a confiança do povo e do governo chinês", acrescentou Zhang.
A China afirma que o Tibete é parte inseparável de seu território há
séculos, enquanto os tibetanos argumentam que a região foi durante muito
tempo virtualmente independente, até que foi ocupada pelas tropas
comunistas em 1951.
O Dalai Lama, que é acusado por Pequim de fomentar o separatismo
tibetano, fugiu da China em 1959, após o fracasso de uma rebelião contra
o domínio comunista, e vive desde então na cidade de Dharamsala, na
Índia, à espera que algum dia seja permitido seu retorno ao Tibete.
A imprensa oficial chinesa repercutiu hoje, com visível incômodo, o
encontro entre Obama e o líder espiritual tibetano na Casa Branca.
O jornal "Global Times" afirmou que "para os EUA, o Dalai Lama é uma
cartada fácil de se jogar, não tão forte como antes, mas uma carta para
jogar com a China".
"China e EUA tentam construir um novo tipo de relação bilateral, mas
os reiterados encontros de Obama com o Dalai Lama prejudicaram o
consenso conseguido a duras penas para criar a confiança mútua entre os
dois países", acrescentou a publicação.
O "Global Times" também mencionou que "este ano acontecerão eleições
no Congresso dos EUA, mas seria ridículo que Obama acreditasse que uma
reunião com o Dalai Lama fosse uma oportunidade para angariar mais
votos".
Outro jornal, o "China Daily" argumentou que "apesar de o encontro
com o Dalai Lama ajudar Obama a obter alguns ganhos políticos internos
fáceis, prejudicará inutilmente às relações estrategicamente
significativas entre Washington e Pequim".
Após a reunião de portas fechadas, com o objetivo de dar ao encontro
um perfil discreto e não irritar ainda mais à China, a Casa Branca
divulgou apenas uma foto e um breve comunicado no qual destacou que
Obama reiterou ao líder religioso que os EUA "não apoiam a independência
do Tibete".
O presidente americano expressou seu apoio à "via intermediária" como
solução para o Tibete, ou seja, nem assimilação, nem independência para
os tibetanos na China.
Obama encorajou o Dalai Lama a "dialogar diretamente" com a China, o que, na sua opinião, seria "positivo" para ambos os lados.
Por sua parte, o líder religioso declarou que não busca a
"independência" do Tibete e acredita que o diálogo entre seus
representantes e o governo chinês "será retomado". EFE
Comentários
Postar um comentário