Aeroporto em terreno da família acua Aécio e coloca em xeque slogan do "choque de gestão"



Aeroporto em terreno da família acua Aécio e coloca em xeque slogan do choque de gestãoAeroporto em terreno da família acua Aécio e coloca em xeque slogan do choque de gestãoQuem acompanhou a entrevista de Aécio Neves na última segunda-feira (21) notou um sorriso sem graça e um certo tropeço nas palavras do candidato tucano à Presidência. Constrangido, ele tentava explicar a notícia sobre a desapropriação de um terreno de sua família, no interior de Minas Gerais, para a construção de um aeroporto quando era governador. A mudança no tom da fala era perceptível: saía de cena o crítico ferrenho dos concorrentes à Presidência, até então ancorado no slogan de "choque de gestão", e em seu lugar entrava o candidato acuado pela primeira grande polêmica da campanha até aqui.

Mais do que uma eventual irregularidade, a reportagem de Lucas Ferraz, publicada no domingo (20) na Folha de S.Paulo, colocou em xeque o modelo de gestão defendida pelo tucano. A avaliação é do cientista político e professor da UFMG Fernando Filgueiras. "No fundo o episódio mostra como, apesar de alguns esforços para melhoria da gestão, traços de patrimonialismo, patriarcalismo e coronelismo ainda se mantêm."

Autor do livro "Corrupção, democracia e legitimidade" e pesquisador do Centro de Referência do Interesse Público da UFMG, Filgueiras afirma que Aécio agora está na defensiva e precisa explicar a história, sobretudo após a repercussão do caso no Jornal Nacional. "A irregularidade só pode ser descartada se o processo de desapropriação for devidamente investigado. Para mim isso é o mais grave."

Entre os questionamentos levantados pelo cientista político estão os critérios para a construção do aeroporto em Cláudio, município de apenas 30 mil habitantes a 50 quilômetros de um outro aeroporto. "Por que aquela terra e não outra?", pergunta.

Filgueiras cita ainda a contestação do valor da desapropriação do terreno na Justiça de Minas. "A desapropriação é irreversível. E se for constatado qualquer problema procedimental na desapropriação (como sempre os advogados pegam), o que será feito com o terreno? Vai cair nos precatórios do estado e haver uma valorização terrível em 10 anos... Ou seja, de 1 milhão de reais inicial, o valor vai para quanto? São muitas questões em aberto." E completa: "Para quem gosta de explorar escândalo é um prato cheio... Para além das anedotas, como, por exemplo, deixar a chave do aeroporto na mão do tio..."

A reportagem deu início a uma troca de acusações dos comitês de campanha dos candidatos. Petistas pediram investigação sobre o caso, enquanto os tucanos acusam o governo de usar a estrutura da Anac, a Agência Nacional de Aviação Civil - que em nota disse que o aeroporto opera de maneira irregular - de usar a máquina pública em seu benefício.

A troca de acusações, diz o especialista, deve ficar, no campo da "guerra discursiva". "A percepção do eleitor sobre o tema da corrupção, de forma geral, é que ela está entranhada nas instituições políticas, pertencendo a uma ordem do comum. Ou seja, parte da ideia de que qualquer candidato é corrupto. Como recurso discursivo utilizado pelos candidatos, a lógica será a de tentar mostrar quem é menos corrupto. Mas, sinceramente, penso que esse discurso moralista não será essencial na decisão do voto."

O estudioso, no entanto, ressalta: "É claro que um escândalo na conta do Aécio contará, nesse momento. Assim como um novo escândalo no governo Dilma, ou mesmo a descoberta de uma suposta delinquência de Eduardo Campos. Um escândalo, a essa altura, é ruim para qualquer candidato porque o coloca na defensiva".

Filgueiras aposta que o tema da corrupção estará presente em 2014 graças às redes sociais, mas será difícil medir a influência do tema sobre os eleitores. "Essa decisão ainda se dará em torno de quais políticas os candidatos defenderão."

A comunicação dessas propostas, diz o professor, ainda precisa ser detalhada pelos candidatos. "Nem Dilma, nem Aécio, nem Campos ainda deixaram claros os seus programas. Há um cenário de incerteza nesse momento. Um comportaento assim das candidaturas tenderá a favorecer uma posição mais conservadora. Aí não adianta o lema 'Muda Brasil' se Aécio não mostrar o que quer mudar. Para isso não bastará marketing político. Terá de haver liderança."

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