O Réveillon através da história – e do mundo



Desde 1885 os franceses cunharam a palavra Réveillon (que etimológicamente vem de “le retour à la veille”, que significa ao mesmo tempo véspera e vigília, ou seja, simboliza um retorno à véspera (depois do sono) e ao estado de alerta! E eles ainda utilizam “réveillon” tanto para a noite de 24 — “Réveillon de Nöel” — “Réveillon de Jour de l’An”.
O que nos induz a propor que todo ser humano deveria re-acordar a cada ano. E se refundar.
Mas todo esse “rito de passagem” mexe com a sensibilidade das pessoas. E sugere medo e esperança. Donde a multiplicidade de ritos e supersticões que acompanham as comemorações de Ano-Novo, até nos dias de hoje. Em algumas regiões da América do Sul, por exemplo, as pessoas saúdam “a virada” apoiadas apenas no pé direito. Outros tocam buzinas, cornetas, ou colocam dinheiro debaixo da toalha de mesa. Ou dentro do sapato, porque os orientais acreditam que a energia entra pelos pés. Para não falar na escolha das cores: o amarelo, dinheiro; o vermelho, paixão; o azul, tranquilidade e o branco (campeão), harmonia, paz. Esses rituais, cujo objetivo é espantar a má sorte e garantir a prosperidade, simplesmente perpetuam a antiga crença de que a passagem de cada ano é uma ocasião cósmica para melhorar o nosso destino. (E lá vai a marchinha: que tude se realize, no ano que vai nascer: muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender).
Só que esse impulso funciona de fora para dentro — os pedidos, o pensamento positivo — mas muito mais de dentro para fora e necessita da energia coletiva para atingir a plenitude; donde as multidões aglomeradas em torno de símbolos (a maçã descendo no Times Square), etc. E nenhum é mais espetacular do que fogos de artíficio multicolorindo o céu de pirotecnias.
OS FOGOS DE ARTIFICIO foram criados pelos chineses e, resumidamente, consistem no seguinte:
um dispositivo que fica envolvido em um cartucho de papel (em geral, em forma de cilindro) contém a carga explosiva que dispara os fogos para cima e o propelente mais utilizado é a pólvora negra — uma mistura de salitre (nitrato de potássio), enxofre e carvão. Outro propelente comum é o altamente explosivo perclorato de potássio (KCLO4), que é misturado com a pólvora. Na parte superior fica a ‘bomba’, com pequenos pacotinhos de sais de diferentes elementos químicos e de diferentes metais para que, quando detonados, produzam cores diferentes.
AS TRADIÇÕES E COMEMORAÇÕES DE ANO NOVO NO MUNDO
Itália. Na cultura italiana, dois pratos são considerados essenciais: o “cotechino” e as lentilhas. Além disso, os romanos se reúnem na Piazza Navona, na Fontana di Trevi, na Trinitá dei Monit e na Piazza del Popolo ou se atiram nas águas geladas do Rio Tigre.
Estados Unidos. A mais famosa passagem de Ano Novo nos EUA é a de Nova Iorque, na Times Square, onde o povo se concentra para beber, dançar, correr e gritar. Times Square é o nome da área formada pelo cruzamento da Broadway com a Sétima Avenida, entre as Ruas 42 e 47. O New York Times — para celebrar a mudança para a região que agora levaria seu nome — fez um grande festa marcada pelos muitos fogos de artifício. Assim, em 31 de dezembro de 1904, nascia a tradição de se comemorar o Réveillon na Times Square. Posteriormente o jornal se mudou para um edifício na Rua 43, mas o prédio original é facilmente localizado pelo mastro em seu topo, pelo qual a “big apple” vai descendo no compasso da contagem regressiva. . Exatamente à meia-noite, quando chega embaixo, explode, “lançando” balas e bombons pra todo lado. A multidão espera, geralmente abaixo de zero, esse momento mágico.
Austrália. Em Sidney, três horas antes da meia-noite há uma queima de fogos na frente da Opera House e da Golden Bridge, o principal cartão postal da cidade. Para assistir ao espetáculo, os australianos se juntam no porto. Depois, recolhem-se em suas casas para passar a virada do ano com a família. E só retornam às ruas na madrugada, quando os principais destinos são os “pubs” e as praias.
França. O ponto alto é a Avenida dos Champs-Elysées, em Paris. Os parisienses assistem à queima de fogos, cada um com sua garrafa de champanhe (para as crianças sucos e refrigerantes). Outros vão ver a saída do Paris-Dacar, no Trocadéro, que é marcada para a meia-noite. Outros costumam ir festas em restaurantes e hotéis. E outros — infelizmente — como em toda parte, são o retrato da solidão a dois
Brasil. No Rio de Janeiro,a praia de Copacabana é considerado o emblema da passagem do Ano Novo. Ali se reúnem milhares de pessoas para verem os fogos de artifício. Mas, antes, no cair da tarde, celebra-se Iemanjá — a raínha do mar.
Observação: quando se trada de água doce, a mãe-d’água é Iara.
Inglaterra. Grande parte dos londrinos passa a meia-noite em suas casas, com a família e amigos. Outros vão à Trafalgar Square, umas das praças mais belas da cidade, à frente do National Gallery. Lá, assistem à queima de fogos. Outros, assistem à contagem decrescente embaixo do Big Ben, que “explode” em luzes e cores brilhantes. Além de fogos de artifício ao longo do rio Tamisa. Em outras cidades, bebe-se nos pubs. (Imagino que melhor agasalhados!)
Alemanha. As pessoas reúnem-se no Portal de Brandemburgo, no centro, perto de onde ficava o Muro de Berlim. Tradicionalmente não há fogos de artifícios. Ou, então, vão direto para as gigantescas cervejarias. . Ou, como os romanos, se atiram em águas geladas.
Japão. Como as religiões que predominam são o xintoísmo e o budísmo — pouco chegadas à comemorações — os mais velhos não têm o costume de celebrar o nascimento de Cristo fora dos templos (cerimônia Joya e que monges batem 108 vêzes em um enorme prato de metal, chamado tímbalo). Já os jovens, se encontram nas lanchonetes e (os que podem) nas boates ou nas ruas , para “derrubar” litros de saquê e tomarem um potinho de ozoni, comerem bolinhos de arroz e tomarem (faz frio) uma sopa de cereais feita com caldo de soja.
Como podemos constatar, diferentes culturas sempre comemoraram a passagem do Ano Novo como um ritual festivo, que representa o começo de um novo ciclo de vida, novos acontecimentos, transformações — sempre impreganadas da simbologia do renascimento. De um novo nascer do sol.
Não devemos esquecer, portanto, o que dizia o Picasso: há pessoas que fazem do Sol, uma mancha amarela; outras, fazem de uma mancha amarela — um Sol.

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