Observatório do Vaticano: O mais antigo centro de pesquisa astronômica do planeta



O Observatório Vaticano (Specola Vaticana, em italiano) é uma instituição de pesquisa científica subordinada diretamente à Santa Sé, tendo como órgão superior de referência o Governatorado do Estado da Cidade do Vaticano. A sede central do Observatório Astronômico do Vaticano situa-se em Castel Gandolfo, residência de verão dos papas, às margens do lago Albano, nos montes Albanos, cerca de 35 km ao Sul de Roma.
Um segundo centro de pesquisa, The Vatican Observatory Research Group – Grupo de Pesquisa do Observatório Romano (Vorg) está em Tucson, Arizona (Estados Unidos), que em colaboração com o Steward Observatory da Universidade do Arizona completou a construção do Vatican Advanced Technology Telecope – Telescópio Vaticano de Tecnologia Avançada (Vatt) no Monte Graham, considerado um dos melhores lugares astronômicos da América do Norte.
O Observatório Vaticano pode ser considerado uma das mais antigas instituições de pesquisas astronômicas do mundo. Sua origem remonta a 1578, quando o papa Gregório XIII mandou erigir no Vaticano a Torre dos Ventos e encarregou os jesuítas astrônomos e matemáticos do Colégio Romano de preparar a reforma do calendário.
A reforma foi relatada pelo jesuíta matemático Christoph Clavius e promulgada em 1582. A partir dessa época, e certa continuidade ao longo do tempo, o papado manifestou interesse em apoiar pesquisas astronômicas. Três outros observatórios foram fundados: o Observatório do Colégio Romano (1774-1878), o Observatório do Capitólio (1827-1870) e a Specola Vaticana (1789-1821), na Torre dos Ventos, dentro do Vaticano.


Em Castel Gandolfo

As atividades no campo da Astronomia ganharam grande repercussão na segunda metade do século 19 com as investigações realizadas no Colégio Romano pelo famoso astrônomo jesuíta Ângelo Secchi, criador da espectroscopia estelar. Com base nessa imensa e rica tradição e visando as persistentes acusações de ser a Igreja contrária ao progresso científico, o papa Leão XIII, com o Moto proprio Ut mysticam, de 14 de março de 1891, refundou o Observatório na colina vaticana, atrás da Basílica de São Pedro.
O Observatório funcionou no Vaticano por mais de 40 anos, reunindo um corpo de pesquisadores procedentes de várias ordens religiosas, como os oratorianos, barnabitas, agostinhos e jesuítas que se ocuparam especialmente na execução do programa internacional da carta fotográfica do céu, em conjunto com outros observatórios.
No início da década de 1930, o crescimento urbano e a difusão do uso da luz elétrica ampliaram de tal forma a luminosidade do céu de Roma, que ficou impossível aos astrônomos o estudo das estrelas mais débeis.
Pio XI autorizou, então, a mudança do Observatório para a residência de verão de Castel Gandolfo, nos montes Albanos. Por volta de 1935, foi confiado aos jesuítas o moderno Observatório, dotado de três novos telescópios e um laboratório astrofísico para análise espectroquímica. Em 1957, a instalação de um telescópio de campo amplo e um moderno centro de cálculo possibilitaram a extensão das pesquisas a outros campos, como o desenvolvimento de novas técnicas para a classificação das estrelas de acordo com seus espectros.


Tucson

O constante crescimento da cidade de Roma e de seu entorno levou muita luminosidade ao céu de Castel Gandolfo e, mais uma vez, os astrônomos tiveram que procurar outro local para suas observações.
Em 1981, pela primeira vez em sua história, o Observatório fundou um segundo centro de pesquisas, o Vorg, em Tucson. Lá os astrônomos do Vaticano têm dependências no Observatório Steward da Universidade do Arizona e podem acessar todos os modernos telescópios situados na região. Em 1993, o Observatório concluiu a construção do Vatt, primeiro telescópio óptico-infravermelho que integra o Observatório Internacional do Monte Graham, projeto em desenvolvimento e que se concluirá nos próximos anos com a construção de outros grandes e sofisticados telescópios.
Dessa forma, dos centros de pesquisa de Castel Gandolfo e Tucson, o Observatório Vaticano dá prosseguimento aos estudos sobre modelos cosmológicos, classificações espectrais de estrelas peculiares, distribuição de estrelas ricas e pobres em metais, estrelas binárias com transformação de matéria, formação de estrelas e história da ciência.
O Observatório Vaticano desenvolve esses projetos em colaboração com vários institutos astronômicos internacionais da Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Finlândia, Itália, Lituânia, África do Sul e Estados Unidos, e é membro da União Astronômica Internacional (IAU) e do Centro Internacional de Astrofísica Relativística (Icra).
A Biblioteca de Castel Gandolfo possui cerca de 22 mil volumes, com a valiosa coleção de obras de Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Isaac Newton, Johannes Kepler, Tycho Brahe, Cristóvão Clávio e Ângelo Secchi. Os resultados das pesquisas são divulgados em revistas internacionais e um informe anual é remetido a mais de 400 institutos espalhados pelo mundo. A cada dois anos, o Observatório promove encontros internacionais, reunindo astrônomos convidados para relatar o resultado de suas pesquisas e, desde 1986, oferece um curso de verão de Astronomia para estudantes procedentes de vários países.
O atual diretor do Observatório Romano é o jesuíta argentino José Funes, graduado em Filosofia, Teologia e Astronomia e especialista em Astronomia Extragaláctica. Em recente entrevista à Rádio Vaticana, Funes explicou que o Observatório Romano é um instituto da Santa Sé cuja missão principal é o estudo da Astrofísica. Sobre a relação entre Astronomia e religião Funes afirmou que “a beleza do universo, da galáxia, das estrelas que estudamos, ajuda-nos a aproximarmos da beleza do Criador, do próprio Criador”.



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