13 situações de violência contra a mulher


por J. Marins
Escritor, Jornalista e Magistrado


Atos de violência contra a mulher ocorrem todos os dias e podem acontecer também no seu ambiente de trabalho e na sala de aula, na faculdade ou na escola. E quando se pensa em violência é importante saber que a lei protege as mulheres não apenas daquelas agressões que deixam marcas explícitas na pele, mas também daquelas que ferem a autoestima, que intimidam suas ações, que ridicularizam e limitam seus direitos como cidadã.

Veja aqui 13 situações de violência que nem sempre são percebidas como agressões à mulher e aos seus direitos:
1. Preconceito contra mulheres em determinadas carreiras

Embora seja negada por boa parte dos empregadores e colegas de trabalho, mulheres que seguem carreiras que têm em sua maioria profissionais do sexo masculino ainda sofrem muito para serem aceitas e respeitadas. Apenas como exemplo, a Engenharia ainda é uma dessas carreiras nas quais as mulheres precisam, no mínimo, do dobro de esforço para se destacarem e serem reconhecidas e respeitadas como merecem. 

2. Diferença salarial entre homens e mulheres
De acordo com a mais recente Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, a média salarial da mulher equivale a 76% da média salarial do homem no Brasil. Em cargos de direção ou gerência, a diferença é ainda maior. Uma gerente ou diretora recebe, em média, apenas 68% da média salarial paga a uma pessoa no mesmo cargo, mas do sexo masculino. 
3. Não respeitar o direito à licença-maternidade na faculdade e no trabalho
Não deveria ser tão natural quanto são os casos de repreensão às mulheres no ambiente de trabalho para que não engravidem. Às vezes velada em forma de piada, outras em forma de ameaça, não é incomum mulheres ouvirem perguntas como “você não tem medo de perder o emprego se sair de licença-maternidade?” ou “como você vai fazer para trabalhar e cuidar dos filhos?” ou ainda “você prefere se dedicar à família ou ser promovida?” (como se a mulher precisasse escolher um ou outro!). Agora, pare e reflita: quantas vezes essa pergunta já foi feita a um homem que pretende ser pai? A licença-maternidade no trabalho e na escola ou faculdade é um direito da mulher e deve ser respeitado como tal. A partir do oitavo mês de gravidez, a gestante tem direito a pelo menos 4 meses de licença. Caso ela seja estudante, pode fazer os trabalhos da escola ou da faculdade em casa.
4. Discriminação pelo modo de se vestir
A mulher tem o direito de se vestir como quiser, como se sentir bem, e não deve ser julgada por isso. Nenhuma roupa dá o direito a homem algum de assediar uma mulher.

Com relação ao ambiente de trabalho, recentemente uma polêmica trouxe o Reino Unido às manchetes do mundo. Na ocasião, foi averiguado que algumas empresas britânicas impunham às mulheres um dress code sexista. Uma funcionária foi dispensada do trabalho e teve o pagamento da diária de trabalho suspenso porque não estava de salto. Além disso, empresas impunham que as mulheres deveriam usar roupas que “valorizassem as formas do corpo” e até uma maquiagem específica.
5. Discriminação em função da orientação sexual
A liberdade de orientação sexual é direito de todos no Brasil. No entanto, lésbicas e trans ainda são vítimas de violência.
6. Violação da privacidade
A privacidade é um direito de todos e sua violação pode ser considerada um ato de violência contra a mulher. O “cyberbullying” e a “pornografia de vingança” foram retratados pela série da Netflix 13 Reasons Why e exemplificam casos em que, na vida real, as redes sociais e outras formas de comunicação digital se tornam mais um ambiente para a violência contra a mulher. Expor a privacidade alheia sem consentimento com o objetivo de humilhar ou constranger é um ato violento que precisa ser banido.
7. Injúria
A injúria consiste em espalhar boatos que prejudiquem a reputação e a honra de uma pessoa. Muitos casos de bullying nas escolas e faculdades podem ser vistos assim. Esse tipo de violência pode prejudicar o desenvolvimento e acabar com a segurança de uma pessoa. Lembrou de 13 Reasons Why de novo?
8. Perseguição e ameaça
A ameaça oprime e obriga a tomar atitudes contra a própria vontade. É baseada na perseguição e na ameaça que acontecem muitos dos casos de assédio sexual e abuso de mulheres em todo o mundo. Essa é uma forma de violência e ninguém deve ser conivente com ela.
9. Imposição de pensamento
Muitas vezes, sob ameaça, assédio e violência psicológica, homens conseguem impor pensamentos às mulheres, fazendo-as acreditar que são inferiores e que merecem ser violentadas. Esse tipo de agressão está previsto como criminoso pela Lei Maria da Penha.
10. Fazer a pessoa se sentir culpada pelo que não é sua culpa
Da mesma família da imposição de pensamento. Fazer com que alguém se sinta culpado pelos seus erros é uma forma de violência. Quando uma mulher andando de saia na rua é assediada, a culpa não é dela. A culpa não é da saia. A culpa não é do horário. A culpa não é do bairro. A culpa não é da obra. A culpa não é da calçada do posto de combustível. A culpa é da pessoa que a assediou. Da mesma forma, atenção: a culpa nunca será do álcool (nem pra vítima, nem pro assediador).
11. Condutas que causem diminuição da autoestima
Amar a si mesmo é um direito. Quando alguém tira isso de uma mulher, os danos são catastróficos. A agressão psicológica que causa humilhação, que diminui a mulher e sua autoestima e que a faz acreditar que ela é incapaz é uma grande violência contra a mulher.
12. Não respeitar quando ela disser “NÃO”
Não é não. Não é joguinho, não é charme. Quando ela disser “não”, precisa ser respeitada.
13. Não respeitar [e não amar] as diferenças
A diversidade é linda. Quanto mais diferentes somos, mais aprendemos uns com os outros. Não somos todos iguais, afirmar isso seria absurdo. Somos todos diferentes, mas merecemos ter os mesmos direitos e oportunidades. Preconceito e intolerância são formas de violência.

Lei Maria da Penha e outras proteções legais à mulher

Apesar da Lei Maria da Penha significar um grande avanço em defesa da mulher contra agressões, ela é direcionada a agressões ocorridas apenas em âmbito familiar, incluindo namorados, ex-namorados, maridos e ex-maridos. Mas há outras ferramentas legais de proteção à mulher, como as leis trabalhistas, que caracterizam o assédio sexual e moral, e o próprio Código Penal Brasileiro.
Apesar das proteções legais, ainda há um longo caminho até conseguirmos superar a cultura da violência contra a mulher. De acordo com dados compilados no Dossiê Violência contra as Mulheres, elaborado pelo Instituto Patrícia Galvão, acontecem:
  • 5 espancamentos a cada 2 minutos;
  • 1 estupro a cada 11 minutos;
  • 1 feminicídio a cada 90 minutos;
  • 179 relatos de agressão por dia na Central de Atendimento à Mulher do Ligue 180.

Violência contra a mulher no ambiente universitário

O Data Popular, em parceria com o Instituto Avon, realizou uma pesquisa em 2015 com 1.823 universitários e universitárias de graduação e pós-graduação. 
Entre as alunas, 67% afirmaram já ter sofrido violência sexual, física, moral ou psicológica.
Entre os homens, 27% acreditam que abusar de uma garota alcoolizada não é violência.
A cultura da violência contra a mulher está no trabalho, na família, na faculdade, na escola. Ela está enraizada. A missão de todos para acabar com ela é entendê-la e compartilhar esse entendimento, para que ela pare de se disseminar.
A cantora estadunidense Lady Gaga foi vítima de abuso sexual aos 19 anos. Em 2015, a trilha sonora de The Hunting Ground, interpretada por ela, emocionou muita gente na cerimônia do Oscar. O documentário trata da violência sexual dentro das universidades nos Estados Unidos e da conivência das instituições de ensino que encobriam a série de crimes.

Como denunciar a violência contra a mulher?

Ligue 180 é um serviço de ligação gratuita de enfrentamento à violência contra a mulher. Trata-se de uma rede de atendimento à mulher vítima de violência pode ser acessada rapidamente por qualquer telefone. Além do atendimento no Brasil, pelo número 180, é possível obter atendimento também na Espanha, em Portugal e na Itália.


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