Resposta de Lázaro Ramos à frase racista de William Waack


por J. Marins
Escritor, Jornalista e Magistrado

Sim, senhor William Waack, eu também sou e me orgulho de ser negro, e me alinho com a resposta suave, morna, firme, educada, participativa e esclarecedora do meu conterrâneo baiano o excelente ator Lázaro Ramos. 

Claro que existem pessoas negras, brancas, pardas, vermelhas e amarelas de má índole, como também existem pessoas negras, brancas, vermelhas, pardas e amarelas de boa índole. Mas, isso somente será fundamentalmente percebido quando todos nós admitirmos que acima da cor está o ser humano.

Lázaro foi sútil, ágil e alvissareiro na resposta. Ele, como todos nós brasileiros, partilhamos da ideia da plena necessidade de valorização da nacionalidade brasileira, para dar sentido ao povo, dar vazão à cultura, demonstrar que é possível a convivência.

Ao preclaro jornalista e apresentador William Waack rogo para que reflita e observe mais o mundo em volta de si mesmo. Existe uma humanidade em movimento. Ideias novas, sentimentos novos, pessoas mais conectadas. Fazendo isso ele certamente terá nova noção do que, de fato, é 'coisa de preto'.

Vejam abaixo a resposta de Lázaro Ramos, publicada na Veja online:

O ator Lázaro Ramos, conhecido por sua firme posição a favor da igualdade racial, fez uma publicação no Instagram no início da madrugada desta sexta-feira, na esteira do escândalo que levou ao afastamento do jornalista William Waack da bancada do Jornal da Globo. Em vídeo vazado por dois integrantes do movimento negro, um deles um ex-cinegrafista da Globo que teria testemunhado a cena ao vivo, por meio de um televisor na rede interna da emissora, Waack reclama de uma buzina da rua que ressoa no estúdio e diz, em tom de piada, “É coisa de preto”.
É exatamente com essa frase, que desconstrói com ajuda de um texto de Johnatan Oliveira Raimundo, que Lázaro Ramos inicia o post, que termina de forma taxativa e com uma colocação de próprio punho: “Racismo é crime e ponto final”.
“Coisa de Preto é a bruxaria contida num conto de Machado de Assis. Um samba escrito pela caneta de Mauro Diniz. Coisa de preto é a poesia de Cartola. Os dedos a bailar sobre o violão de Paulinho da Viola. Ah, só podia ser preto — Romário, Imperador, Ronaldinho. Responder ao racismo com Lamentos em forma de chorinho. Pixinguinha, preto rei, rei dessa coisa escura. Renato Gama autodidata senhor da soltura. Coisa de preto é manter-se grande diante de quem mata. É se precisar ameaçar com canhão pelo fim da chibata. Coisa de preto é viver com alegria”, diz o texto de Johnatan Oliveira Raimundo citado pelo astro da série Mister Brown.
“Inventar a matemática, arquitetura, medicina, agricultura e filosofia. Ser parte da primeira civilização. Ser senhor do Blues, do Samba, do Reggae, do Pop, Soul, do Jazz. É manter amor à Terra diante de um povo que a desdenha pelo céu. Coisa de preta é Jovelina partideira. Milton, Djavan, Tim, Alcione e Candeia. Veja a noite Yurugu, fique atento. É preta a senhora dona do vento. Veja, estejas pronto e ouvindo.” Jonathan Oliveira Raymundo. E eu completo aqui: é tudo isso é muito mais. E pra você, o que é? E só pra não esquecer: racismo é crime e ponto final.”

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