De bananeira não sai jaca


Já dizia meu pai, nos idos dos anos 70, corroborado por minha mãe: 'nem tente, pois de bananeira não sai jaca'. Esse adágio, verdadeiro brocardo da sabedoria popular, traça os limites e demonstra as distinções entre a insistência e a persistência. Pela primeira, a insistência, a pessoa estará sempre com os olhos voltados para trás, preocupada demais em progredir.  Na persistência, por seu turno, mira-se a frente, com foco, com determinação.

Isso reflete bem o dito popular título desta crônica. Não espere e nem tente, pois se o fizer estará incorrendo em desnecessária, tola e pueril insistência: de bananeira não nasce jaca, e nem o contrário.

Na vida surgem situações nas quais o sujeito passa mais tempo preocupado em convencer os outros do que a si mesmo, perdendo preciosas oportunidades. Insistindo. Também acontece quando alguém quer por que quer ser o dono da razão ou planeja mudar a opinião de outro, forçadamente. Desista. Se fulano pensa de um jeito, nem tente, dali não vai sair jaca, talvez nasçam apenas bananas nanicas, mas que sempre serão bananas, mesmo pequenas.

Dia desses, topei com um grupo de amigos que discutiam política. Fiquei a observar as reações, verificando o quanto o provérbio se aplica nos tempos atuais. Da conversa, o mais exaltado, partiu para argumentos mais fortes, querendo de todo jeito fazer com que seu interlocutor seguisse sua opinião. Não deu em nada. Ao contrário, apenas adubou mais a bananeira dos pensamentos do outro, cuja convicção estava formada, para nada servindo aquela trituração mental. Dali, não ia sair de maneira alguma jaca, nem com enxerto.

Outra vez, durante um jogo de futebol, tive de apartar a conversa acalorada de dois conhecidos, antes que entrassem nas vias de fato, acalmando os ânimos. Serenados, contei-lhes que o ideal é respeitar a opinião alheia, lembrando-lhes que banana da terra não sai de jaqueira.

O que dizer, então, quando aquela pessoa navega contra todas as indicações de que algo vai dar errado, mas ainda assim insiste e termina quebrando literalmente a cara? Esse cidadão definitivamente esperava jacas enormes, pesadas e doces de um pé de banana prata. 



São muitos os exemplos que esclarecem e pontuam muito bem que insistir difere diametralmente de persistir. Quem insiste, repito, vive com os olhos no retrovisor, sujeito a aguardar jacas graúdas de bananeiras, enquanto a persistência releva o passado e funciona como mola real e propulsora, que conduzirá a pessoa ao sucesso, seja profissional, seja familiar e social.

Por isso, faça como os antigos, seja persistente, e jamais espere jacas de uma bananeira, salvo se estiver numa loja de frutas cujo nome seja 'A bananeira'. Mesmo assim, certifique-se se a jaca é dura ou mole. Fica a dica nesse início de ano.

Juvêncio Marins, cujo pseudônimo é J. Marins, além de cofundador do Movimento Libertologia (MovLiber) é escritor, professor, jornalista, sociólogo e juiz federal.

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