O egoísta e a sua indústria de sucessos


Marina Cervini Lentini e Juvêncio Marins, da Redação

A crônica de hoje pretende demonstrar e explicar um dos mais degradantes sentimentos  humanos, responsável direto por 90% do insucesso de quem o retém, ao mesmo tempo em que explica e pontua como o ser humano inteligente pode fazer para driblar a inveja, o rancor e a desmedida competição urdida.



Refiro-me ao egoísmo, um claro exemplo de complexo de inferioridade; é extremamente tóxico porque é ele o elemento que leva as pessoas ao desamor, ao ódio sem explicação, e, em última análise, à violência. O egoísmo é burro, é tolo e ao mesmo tempo é infantil.



O egoísmo é a falta de conteúdo e do argumento (e da civilidade). Ao não saber como disputar espaços familiares, sociais e profissionais, os egoístas optam pela violência física e retórica que, por sua vez, está associada às incapacidades motoras básicas (a linguagem é também uma atividade motora, caso alguém não saiba).



Pessoas cultas também padecem, em seu DNA, desse complexo fundamental. Como é, em essência, um universo de força, o mundo do egoísta traduz “resultados” em sua semântica interna como “estratégia unicamente pessoal”, numa impaciência que assustaria Flaubert e Guimarães Rosa, retratada por uma assimetria cognitiva como, para o egoísta, um valor incontestável, pleno de significação a priori – uma ingenuidade quase infantil.



No egoísta, ‘inteligência’ é sinônimo de ‘estratégia e posição’. Não há ali – e em tese nem deveria haver – um trabalho intelectual, um planejamento. ‘Pensar’ para um egoísta é sinônimo de ‘hesitar’. E isso ele não quer. E nem  se sente à vontade. 


Na verdade, o egoísta fica incomodado com o sucesso alheio e sua mente pueril trabalha para "exterminar" o êxito alheio, acreditando que somente ele - o egoísta, pode deter o sucesso, só  ele pode sentir o gostinho, ninguém mais.


A vida em torno do egoísta torna-se, assim, infantilizada, passando a existir um evidente gozo naqueles que o cercam e agem como ele. Sim, existem egoístas junto ao egoísta, como se fossem atraídos, como iguais, como um bando generalizado apto a participar da infantilização. 

Ora, quem não quer voltar a ser criança? Esse é o princípio basilar do desejo lacaniano: não se deseja algo, mas deseja-se o desejo do próximo, como crianças, que querem ardentemente o brinquedinho da criança ao lado, não para brincar com o objeto, mas para que o outro não brinque, para tirá-lo das mãos daquele outro que lhe perturba.

O egoísta, assim, deixa de ser danoso apenas para si e contamina o meio em que atua. Seu objetivo é aniquilar as possibilidades alheias de sucesso para que apenas ele o detenha. E, ao fazê-lo, não cresce, pois cada vez mais terá que realimentar seu ego, tornando-se vazio e cheio, indefinidamente, pelo vazio existencial que o faz criar mentiras infinitas e viver furiosamente no berçário infantilizado dessas mentiras que dia após dia ganham, para ele, contornos de realidade. 

O que fazer? Competir com o egoísta ou servir como contraponto?

Se o egoísta familiar, social e profissional quer disputa, apresente parcerias. Se o egoísta quer ódio, dê-lhe amor. Se o egoísta quer medo, ofereça coragem. Se o egoísta quer estratégia, mostre inteligência. Se o egoísta tem dogmas individuais, apresente argumentos. Se o egoísta quer humilhação, demonstre altivez. Se o egoísta quer parecer exacerbado nas ações, exiba seu tesão ao expor suas ideias. Se o egoísta quer o seu silêncio, mostre-lhe sua voz.

O egoísta está fadado ao insucesso. E ele sabe disso. Por isso quer evitar o sucesso alheio, como a criança que deseja o brinquedo da outra. Não se preocupe com o egoísta, e progredirá. 

Lembre-se, finalmente, se o egoísta tomar o seu brinquedo, sorria. 

Você é capaz de fabricar outros, e mais outros e outros, enquanto ele, sem saber o que fazer com o brinquedo que tomou, vai girar em volta de si mesmo, sentar e ficar feito bobo, manuseando o objeto como se este fosse um artefato nuclear.

Exercite sua inteligência, e aproveite o seu êxito.

Juvêncio Marins, cujo pseudônimo é J. Marins, é escritor, jornalista, professor, sociólogo e juiz federal, além de cofundador do MovLiber, Movimento Libertologia, tendo criado a Ciência da Liberdade, na qual, o texto acima compõe o livro de igual nome, de sua autoria.

Mais informações em www.movliber.org










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